Capítulo 13 — Os Países Baixos e a Escandinávia
- Introdução — Erguendo o véu do futuro
- Capítulo 1 — Predito o destino do mundo
- Capítulo 2 — Os primeiros cristãos: leais e genuínos
- Capítulo 3 — Trevas espirituais na igreja primitiva
- Capítulo 4 — Os valdenses defendem a fé
- Capítulo 5 — A luz irrompe na Inglaterra
- Capítulo 6 — Dois heróis enfrentam a morte
- Capítulo 7 — Lutero, o homem para seu tempo
- Capítulo 8 — Um campeão da verdade
- Capítulo 9 — A luz acende-se na Suíça
- Capítulo 10 — Progresso na Alemanha
- Capítulo 11 — O protesto dos príncipes
- Capítulo 12 — Aurora na França
- Capítulo 13 — Os Países Baixos e a Escandinávia
- Capítulo 14 — A verdade avança na Grã-Bretanha
- Capítulo 15 — O reinado do terror na França
- Capítulo 16 — Buscando liberdade no novo mundo
- Capítulo 17 — A esperança que infunde alegria
- Capítulo 18 — Nova luz na América
- Capítulo 19 — Luz para os nossos dias
- Capítulo 20 — Um grande movimento mundial
- Capítulo 21 — Ceifando o furacão
- Capítulo 22 — Profecias cumpridas
- Capítulo 23 — Esclarecido o mistério do santuário
- Capítulo 24 — O que Cristo está realizando agora?
- Capítulo 25 — A imutável lei de Deus
- Capítulo 26 — Campeões da verdade
- Capítulo 27 — Como alcançar a paz de espírito?
- Capítulo 28 — Enfrentando o registro de nossa vida
- Capítulo 29 — Por que existe o sofrimento?
- Capítulo 30 — Guerra entre Satanás e o homem
- Capítulo 31 — Maus espíritos
- Capítulo 32 — Como derrotar a Satanás
- Capítulo 33 — O que existe além do túmulo?
- Capítulo 34 — Oferece o espiritismo alguma esperança?
- Capítulo 35 — Ameaçada a liberdade de consciência
- Capítulo 36 — O conflito iminente
- Capítulo 37 — Nossa única salvaguarda
- Capítulo 38 — A última mensagem de Deus
- Capítulo 39 — O tempo de angústia
- Capítulo 40 — O livramento do povo de Deus
- Capítulo 41 — A terra em ruínas
- Capítulo 42 — Paz eterna: encerrada a controvérsia
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Capítulo 13 — Os Países Baixos e a Escandinávia
Nos países baixos a tirania papal suscitou protesto muito cedo. Setecentos anos antes de Lutero, o pontífice romano foi destemidamente acusado por dois bispos, os quais, tendo sido enviados em embaixada a Roma, se tornaram conhecedores do verdadeiro caráter da “Santa Sé“: “Sentais-vos no templo como Deus; em vez de pastor vos fizestes lobo para as ovelhas. [...] Enquanto devíeis ser servo dos servos, como chamais a vós mesmos, esforçais-vos por vos tornar senhor dos senhores. [...] Trazeis o desdém aos mandamentos de Deus.”1.Gerard Brandt, History of the Reformation in and About the Low Countries, livro 1, p. 6.GCC 106.1
De século em século, surgiram outros para fazer soar este protesto. A Bíblia valdense foi traduzida em versos para a língua holandesa. Declararam “que havia nela grande vantagem; nada de motejos, fábulas, futilidades, enganos, mas palavras de verdade”. Assim escreveram os amigos da antiga fé, no décimo segundo século.2.Ibid., p. 14.GCC 106.2
Começaram então as perseguições de Roma; mas os crentes continuaram a multiplicar-se, declarando que a Bíblia é a única autoridade infalível em matéria de religião e que “nenhum homem deveria ser coagido a crer, mas sim ser ganho pela pregação”.3.Martynm, v. 2, p. 87.GCC 106.3
Os ensinos de Lutero encontraram nos Países Baixos homens ardorosos e fiéis para pregar o evangelho. Menno Simons, educado como católico romano e ordenado ao sacerdócio, era completamente ignorante em relação à Escritura, e não queria lê-la com medo de cair em heresia. Entregando-se ao desregramento, esforçou-se por fazer silenciar a voz da consciência, mas em vão. Depois de algum tempo foi levado ao estudo do Novo Testamento; isto, juntamente com os escritos de Lutero, levou-o a aceitar a fé reformada.GCC 106.4
Pouco depois testemunhou a morte de um homem, executado porque havia sido rebatizado. Isto o levou a estudar na Bíblia a questão do batismo infantil. Viu que o arrependimento e a fé eram requeridos como condições para o batismo.GCC 106.5
Menno retirou-se da igreja romana e dedicou a vida a ensinar as verdades que recebera. Tanto na Alemanha quanto nos Países Baixos surgira uma classe de fanáticos, ultrajando a ordem e a decência, e levando a efeito a insurreição. Menno se opôs com tenacidade aos ensinos errôneosGCC 106.6
e ferozes planos dos fanáticos. Durante vinte e cinco anos atravessou os Países Baixos e porção norte da Alemanha, exercendo vasta influência, e exemplificando em sua própria vida os preceitos que ensinava. Era um homem de integridade, humilde e gentil, sincero e fervoroso. Grande número se converteu através de seus labores.GCC 107.1
Na Alemanha Carlos V havia condenado a Reforma, mas os príncipes mantiveram-se como uma barreira contra sua tirania. Nos Países Baixos seu poder foi maior. Editos perseguidores seguiam-se uns aos outros em rápida sucessão. Ler a Bíblia, ouvi-la ou pregá-la, orar a Deus em secreto, deixar de curvar-se perante as imagens, ou cantar um salmo, eram puníveis com a morte. Milhares pereceram sob Carlos V e Filipe II.GCC 107.2
Certa ocasião uma família inteira foi levada perante os inquisidores, acusada de não assistir à missa e de fazer culto em casa. O filho mais moço respondeu: “Pomo-nos de joelhos e oramos para que Deus nos ilumine a mente e perdoe os pecados; oramos pelo nosso soberano, para que seu reino seja próspero e sua vida feliz; oramos pelos nossos magistrados, para que Deus os preserve.” O pai e um dos filhos foram condenados à fogueira.4.Wylie, livro 18, cap. 6.GCC 107.3
Não somente homens, mas mulheres e moças ostentavam coragem inflexível. “Esposas tomavam lugar junto aos suplícios de seus maridos e, enquanto estes suportavam o fogo, elas balbuciavam palavras de consolação, ou cantavam salmos para animá-los. Jovens se deitavam vivas nas sepulturas, como se estivessem a entrar em seu quarto para o sono noturno; ou saíam para o cadafalso e para a fogueira, trajando seus melhores vestidos, como se fossem para o casamento.”5.Ibid.GCC 107.4
A perseguição servia para aumentar o número das testemunhas da verdade. Ano após ano o monarca persistia em sua obra cruel, mas em vão. Guilherme de Orange finalmente trouxe à Holanda a liberdade de culto a Deus.GCC 107.5
Reforma na Dinamarca — Nos países do norte o evangelho encontrou entrada pacífica. Estudantes de Wittenberg, voltando para casa, levaram a fé reformada para a Escandinávia. Os escritos de Lutero também propagaram luz. O povo robusto do norte deixou a corrupção e as superstições de Roma para acolher as verdades vitais da Bíblia.GCC 107.6
Tausen, “o reformador da Dinamarca”, desde a infância deu mostras de vigoroso intelecto e entrou para o claustro. O exame demonstrou possuir ele talento que prometia bons serviços para a igreja. Concedeu-se ao jovem estudante permissão para escolher uma universidade da Alemanha ou dos Países Baixos, com a condição de que não fosse para Wittenberg e assim se expusesse à heresia. Era o que pensavam os frades.GCC 107.7
Tausen foi para Colônia, um dos baluartes do romanismo. Ali logo se desgostou. Aproximadamente por esse mesmo tempo, leu os escritos de Lutero com deleite e desejou grandemente o privilégio de receber instrução pessoal do reformador. Mas para fazer isto, deveria arriscar a perda do apoio de seu superior. Decidiu-se logo, e pouco tempo depois era estudante em Wittenberg.GCC 107.8
Retornando à Dinamarca, não revelou seu segredo, mas esforçou-se por levar os companheiros a uma fé mais pura. Abria a Bíblia e pregava-lhes a Cristo como a única esperança de salvação para o pecador. Grande foi a ira do prior, que nele havia fundado elevadas esperanças como defensor de Roma. Foi imediatamente removido de seu mosteiro para outro, e confinado à cela. Através das barras da cela, Tausen comunicava aos companheiros o conhecimento da verdade. Fossem aqueles padres dinamarqueses peritos no plano da igreja de como tratar a heresia, a voz de Tausen jamais teria sido de novo ouvida; mas, em vez de o confiar a alguma masmorra subterrânea, expulsaram-no do mosteiro.GCC 108.1
Um edito real, recentemente promulgado, oferecia proteção aos ensinadores da nova doutrina. As igrejas lhe foram abertas, e o povo se reunia em multidão para ouvi-lo. O Novo Testamento em dinamarquês circulava amplamente. Esforços feitos para destruir a obra tiveram como resultado estendê-la, e não muito tempo depois a Dinamarca declarava aceitar a fé reformada.GCC 108.2
Progresso na Suécia — Também na Suécia, jovens de Wittenberg levavam a água da vida a seus conterrâneos. Dois líderes da Reforma na Suécia, Olavo e Lourenço Petri, haviam estudado com Lutero e Melâncton. Tal como o grande reformador, Olavo despertava o povo com sua eloqüência, ao passo que Lourenço, assim como Melâncton, era refletido e calmo. Ambos revelavam inflexível coragem. Os padres católicos instigavam o povo ignorante e supersticioso. Olavo Petri, em várias ocasiões, mal pôde escapar com vida. Os reformadores, contudo, eram protegidos do rei, que havia tomado posição em favor de uma reforma e assim recebeu com agrado aqueles hábeis auxiliares na batalha contra Roma.GCC 108.3
Na presença do monarca e dos principais homens da Suécia, Olavo Petri defendeu com grande habilidade a fé reformada. Declarou que os ensinos dos Pais da Igreja deveriam ser recebidos somente se estivessem de acordo com as Escrituras; que as doutrinas essenciais da fé são apresentadas na Bíblia de modo claro, assim que todos são capazes de entendê-las.GCC 108.4
Esse debate serve para mostrar-nos “a qualidade dos homens que formavam a maior parte do exército dos reformadores. Longe de serem iletrados, sectaristas, controversistas ruidosos, eram homens que haviam estudado a Palavra de Deus e sabiam muito bem como manejar as armas com que o arsenal da Bíblia os supria. [Eram] eruditos e teólogos, homens que se assenhoreavam perfeitamente de todo o sistema de verdades evangélicas, e que ganharam vitória fácil sobre os sofismas das escolas e dos dignitários de Roma”.6.Ibid., livro 10, cap. 4.GCC 108.5
O rei da Suécia aceitou a fé protestante, e a assembléia nacional declarou-se em seu favor. Por desejo do rei, os dois irmãos levaram a cabo a tradução de toda a Bíblia. Foi ordenado pela Dieta que por todo o reino os ministros explicassem as Escrituras e que às crianças nas escolas se ensinasse a leitura da Bíblia.GCC 109.1
Liberta da opressão de Roma, a nação atingiu força e grandeza que nunca antes havia alcançado. Um século mais tarde, esta nação até ali fraca — a única da Europa que ousou prestar auxílio — foi em livramento da Alemanha nas terríveis lutas da Guerra dos Trinta Anos. Todo o Norte da Europa parecia a ponto de cair novamente sob a tirania de Roma. Foram os exércitos da Suécia que habilitaram a Alemanha a conquistar a tolerância aos protestantes e a restaurar a liberdade de consciência nos países que haviam abraçado a Reforma.GCC 109.2